Milão é sinónimo de sofisticação e marcas de luxo. Mas, vizinho ao distrito da moda, existe outro muito mais interessante: o Quadrilátero do Silêncio
A agulha gigante que enfeita a Piazza Cardona diz muito sobre a cidade. Remete para esse mundo efémero, onde os designers e os estilistas italianos dão cartas. São quatro as ruas de oiro, que reúnem algumas das lojas mais caras e exclusivas do mundo: Via Manzoni, Via Montenapoleone, Via della Spiga e Via Sant’Andrea.
São artérias cheias de azáfama, com um movimento contínuo de clientes e turistas curiosos por esse quadrilátero luxuoso, onde as vitrines, originalíssimas, informam preços estratosféricos. Realmente há por lá montras criativas. Recordo-me, por exemplo, da Dolce & Gabana que parece ter-se inspirado na Frida Kahlo.
Mas, não muito longe, aventuramo-nos num outro circuito, muito menos turístico, sugerido pela autora do blogue Milão nas Mãos, que nos encantou. As ruas tranquilas, as fachadas ricas em detalhes que os italianos chamam arte Liberty e os franceses art noveau. A calma sente-se, como um crescendo, à medida que rumamos aos Jardins Públicos Indro Montanelli, onde as mães levam as crianças milanesas para brincarem. O Pedrinho também teve direito à sua pausa no parque, em frente ao belíssimo Museu de História Natural.
Transposto o Arco da Via Salvini, o burburinho do tráfego fica um pouco mais para trás, enquanto nós, de nariz no ar, contemplamos as cariátides que enfeitam as fachadas da Praceta Eleonore Duse.
Esta parte da cidade foi enobrecida sob o império Habsburgo, quando se construiu o Palácio Reale e os jardins públicos; no século XIX surgiram as belas mansões de estilo neoclássico e art noveau, mantendo-se uma zona privilegiada até os anos trinta do século XX, altura em que se construiu o Palácio Fidia, por exemplo.
Vários destes edifícios têm varandas de ferro e jardins no topo, que apenas conseguimos vislumbrar. Infelizmente, não conseguimos ver os flamingos cor-de-rosa da Villa Invernizzi (estava fechada para obras), o que suscitou alguns protestos dos pequenos.
Aliás, perdemo-nos e acabamos por nem passar na via Mozart, que faz parte deste circuito. Mas entretanto, descobrimos outras pequenas pérolas, como a pequena e escura igreja de S. Benedito com o seu grupo de freiras em plena demonstração de fé.
Dizem que vários escritores e literatos como Alessandro Manzoni, Cesare Beccaria e Stendhal se apaixonaram pela cidade, graças a estes recantos. Olhando para a Casa Guazzoni (1904-1906), na Via Malpighi, consigo perceber porquê. Existe ali uma densa rede de querubins e guirlandas, janelas esculpidas, ferro forjado e mosaicos coloridos, numa explosão decorativa muito feliz.
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Queria ter conseguido captar a magia da Casa Guazzoni, mas as minhas limitações de fotógrafa não permitiram. |
Qual dos quadriláteros vos parece mais apetecível?
O da Moda com ou o do Silêncio?
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Acesso ao quadrilátero do silêncio: linha vermelha do metro, saída em Porta Venezia ou Palestro.
Acesso ao quadrilátero do silêncio: linha vermelha do metro, saída em Porta Venezia ou Palestro.