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Milão 1: sob a protecção da Madonnina

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Herdou o nome dos celtas, foi a casa de Leonardo Da Vinci e viu Napoleão chegar, triunfal, para ser coroado imperador de Itália. Chegamos à capital da Lombardia

A milanesíssima Madonnina brilha, fulgurante, no pináculo mais alto da catedral, à medida que emergimos das profundezas do metro. A enorme estátua banhada a ouro é tão importante como o Duomo, a catedral que demorou quase meio século a ser construída.

Houve um tempo em que ninguém se "atrevia" a construir mais alto do que os seus 108,5 metros até que, nos anos 60, a sede da Pirelli quebrou essa regra, superando a altura da protetora da cidade. Mas os modernos arranha-céus entretanto erguidos estão suficientemente longe para a Santa Maria Nascente reinar sobre esta praça apinhada.

O tamanho da fila é enorme, o que nos dá muito tempo para apreciar a fachada de uma das mais belas catedrais góticas da Europa, toda construída com o maravilhoso mármore branco-rosa de Candoglia, que chegava através dos canais de Milão.

Diz a lenda que o diabo se apresentou ao duque de Milão, Gian Galeazzo Visconti, oferecendo a salvação da sua alma em troca da construção de uma grande igreja, com muitas imagens suas. As 96 gárgulas demoníacas parecem corroborar esta estória...






O interior é tão grandioso como o exterior, ainda que mais escuro e introspectivo: 52 colunas erguem-se elegantes até às alturas, enquanto sarcófagos de mármore desfilam nas laterais. Alguns dos vitrais que retratam cenas bíblicas e filtram a luz são do século XIII. Pouco depois, surge a magnética estátua de São Bartolomeu, que segura a sua própria pele como um manto, numa metáfora artisticamente dramática do seu martírio

Não admira que Napoleão tenha escolhido o Duomo para ser coroado imperador de Itália, em 1813, alguns anos depois da sua polémica auto-coroação em França.

Recordo-me da minha primeira visita ao Louvre, há ziliões de anos (era eu uma estudante universitária), e de como fiquei impressionada com a tela gigante de Jacques-Louis David, que pintou Napoleão a coroar a sua Josephine na catedral Notre Dame (detalhes sobre a obra aqui). Hoje, tenho pena que não tenham feito um quadro da segunda coroação.

Mas a catedral de Milão tem ainda outra lenda que merece ser contada: dizem que guarda um dos pregos do martírio de Cristo. Doado pela mãe do imperador Constantino (o responsável por oficializar o cristianismo com o Édito de Milão), quando a cidade era a capital do império, todos os anos, o prego é exposto aos fieis durante dois dias. 

Mas, provavelmente, o mesmo acontecerá com os mais de vinte pregos sagrados espalhados por outras igrejas do mundo...


A visita ao Duomo só fica completa com uma subida aos céus. Duzentas e tal escadas vencidas, chegamos ao telhado, uma galeria de esculturas que enfeitam 135 agulhas rendilhadas. Há um bilhete, obviamente mais caro, que dá direito a uma subida de elevador, mas nós somos pobres e temos que queimar as calorias das massas/pizzas.

Sabem? A Veneranda Fabbrica de Duomo lançou a campanha "adotta una guglia", para angariar fundos para o restauro dos pináculos da catedral, pelo que todos podem deixar a sua "marca" aqui.




A doirada Madonnina ao fundo, com a bandeira de Itália.



Il Salotto di Milano


Descemos das alturas para entramos na bela sala de visitas de Milão, logo ao lado da catedral. A galeria Vittorio Emanuele data do século XIX, ou seja, é um dos centros comerciais mais antigos do mundo e foi o primeiro edifício italiano a usar metal e vidro como parte da estrutura e não apenas como decoração.

Ali ficam lojas luxuosas como a primeira Prada aberta em Itália e restaurantes históricos que devem, obrigatoriamente, ter os seus nomes escritos em dourado com fundo preto. Um café ali custa uma exorbitância, mas é servido numa chávena de design, provavelmente italiano.

Nos mosaicos que cobrem o chão, há signos do zodíaco e símbolos de grandes cidades italianas. Entre estas, destaca-se o de Torino... Dizem que apoiar o calcanhar nos testículos do touro e rodar três vezes dá sorte. 

Bem, que dizer? O pobre do bicho é vítima da sua popularidade, no lugar do túbaro há já um buraco, que tem que ser consertado regularmente. Não consigo deixar de cogitar no que pensarão os habitantes de Torino acerca desta estranha superstição?



No centro da galeria, a abóbada tem representações de quatro continentes. 




O longo corredor da galeria liga o Duomo até outra piazza, onde fica uma das mais prestigiadas casas de ópera do mundo: o teatro alla Scala, onde Verdi iniciou a sua carreira.


Mas sobre ela falaremos num próximo episódio de Milão. Ciao a tutti!


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Site da catedral: aqui.
Bilhete (catedral, museu e telhado, com acesso pelas escadas): 11€ adulto / 6€ criança



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