Leonardo Da Vinci, um dos maiores génios do Renascimento e
da história viveu em Milão parte da sua vida e aqui deixou uma das suas mais
belas obras: il Cenacolo.
Um dos
motivos pelos quais escolhi a capital da Lombardia como destino reside no
sombrio refeitório da Igreja de Santa Maria della Grazie, na Via Corso Magenta.
Os irmãos dominicanos que comiam perante esta obra prima deviam dar graças por
isso diariamente.
Com 9
metros de largura e 4 e altura, A Última
Ceia ocupa toda uma parede e é tão bela que nem reparei no ambiente frio
que a envolve, numa tentativa de a preservar. Até esqueci a corrida louca para chegar a horas da visita. As reservas abrem com três meses de
antecedência e são tão concorridas que só consegui vaga para o dia da chegada,
pelo que voamos do aeroporto para a
cidade, da estação central para o apartamento e, largadas as malas, voltamos a
correr para o metro e daí para a igreja, como se tivéssemos asas nos pés.
Já não tenho idade para isto, mas a alternativa seria perder o privilégio de ver il Cenacolo. E ele pode não durar para sempre. Porquê?
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Uma perspectiva diferente da Igreja de Santa Maria della Grazie, a partir do Claustro dos Sapos. |
O espírito experimental de Leonardo não teve um resultado muito
feliz aqui. A técnica de têmpera (tinta preparada com óleo de linhaça e ovos,
aplicada sobre uma camada de gesso) foi desastrosa. Pouco depois, apareciam as primeiras
fissuras.
Na
época de Napoleão, o refeitório foi usado como estábulo e, na II Guerra
Mundial, o edifício foi bombardeado. Embora a parede em causa permanecesse miraculosamente
de pé, ficou sob o sol, a chuva, o vento e a poluição até a cidade e os seus
monumentos serem reconstruídos. Foi necessário um grande restauro (1979-1999)
para preservar aquilo que hoje vemos.
Eis
pois a perspetiva perfeita da última ceia, que amplia a sala. Eis o ar resignado de Jesus que contrasta
com as emoções de cada um dos apóstolos, que reagem à notícia da traição. A cena é tão viva que parece uma
fotografia. Eis o belo João, que causou tanta polémica. A guia afirma que, ao
contrário do que o Dan Brown efabulou, este é mesmo o apóstolo mais novo,
atribuindo as feições delicadas à sua juventude. "Na época, era habitual retratar
os homens jovens e bonitos com traços efeminados".
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Leonardo com os seus pequenos ajudantes, durante as férias escolares, no Castelo Sforzesco. |
Os 15
minutos da visita esfumaram-se tão depressa! Mas ainda temos a igreja por
descobrir, após um gelado. Construída no colorido tijolo lombardo, a igreja de
Santa Maria della Grazie foi modificada e embelezada por Ludovico il Moro, o patrono do génio toscano. De
resto, a casa do duque (o Castelo
Sforzesco) foi também a cada de Leonardo Da Vinci durante 17 anos. Vamos até
lá?
Trata-se
de um edifício monumental que acolhe uma série de museus e que se prolonga
num vasto parque, onde os duques levavam os seus hóspedes a caçar na Idade Média. Hoje,
os milaneses usam-no para correr, fazer piqueniques, namorar e descansar.
Sentada
na relva do Parque Sempione, com o belo Arco
della Pace ao fundo (mandado construir por Napoleão para a sua entrada
triunfal na cidade), imagino o grande Leonardo naquele castelo, ocupado com um
dos seus inúmeros projectos. Aqui escreveu muitos dos seus famosos códigos,
pintou uma das salas do duque, projectou o sistema de comportas dos canais de
Milão... será que foi feliz?
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Última Ceia: reservas aqui
Bilheteira e visitas: de terça a domingo das 8.15 às 18.45
Preço: 11,5€ (adulto, com visita guiada) e 3,5€ (criança)
Igreja de Santa Maria della Grazie: entrada gratuita
Castelo Sforzesco: entrada museus 5€ (adulto) e 3€ (criança)
Preço: 11,5€ (adulto, com visita guiada) e 3,5€ (criança)
Igreja de Santa Maria della Grazie: entrada gratuita
Castelo Sforzesco: entrada museus 5€ (adulto) e 3€ (criança)