...está cansado
da vida, diz o adágio viajante, provavelmente porque esta metrópole, vibrante e orgulhosamente multicultural, tem programas para todos os gostos.
Em poucos lugares se pode, numa só tarde, ouvir um concerto de guitarra
elétrica a percorrer os clássicos de Led Zeppelin e Pink Floyd, sob o olhar
atento de Eros (Piccadilly Circus); ver breakdance e logo a seguir um
violinista jovem e loiro com vagas semelhanças a um David Garret (Leicester
Square) e, não muito longe dali, ouvir um cantor lírico num dos mais
tradicionais mercados londrinos (Covent Garden).
Os teatros e casas de espectáculos sucedem-se, anunciando musicais a um
preço muito mais penoso do que o das performances de rua: behold!Les Miserables continuam em cena!
Milhares de turistas misturam-se com os londrinos que se dirigem para a
city, o centro financeiro do reino, nos seus fatos impecáveis. Nos labirínticos túneis
de metro, leem jornais, leem livros (quem são estas aves raras?), sempre discretos
em relação ao vizinho do lado, mesmo quando os sovacos deste se escancaram a
metros centímetros dos seus rostos.
Antes de entrarem nos seus modernos escritórios, abastecem-se de cafeína
no Starbucks ou Costa Coffee da esquina.
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O pequeno explorador atento às luzes de Picadilly Circus. |
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Escuteiros portugueses assistem a uma performance de rua. |
Os edifícios espelhados que engolem estas formiguinhas convivem com
outros, de épocas longínquas. Essa é a
imagem de marca de Londres: uma cidade moderna, mas que não esquece as suas
raízes, as suas tradições, o seu chá, a sua rainha.
É por sua majestade que o célebre relógio da Torre de Santo Estevão, mais
conhecido como Big Ben (por empréstimo do nome do sino de 13,5 toneladas),
proclama em latim e com letras de ouro "Deus, mantenha
a salvo a nossa rainha Vitória, a primeira".
Só aqui a ambição de rigor poderia criar a gíria "putting a penny on", porque colocar
ou retirar um centavo no mecanismo adianta, ou atrasa, aquele relógio
durante a fracção de segundo necessária para que seja o mais preciso do
mundo.
Em Londres encontramos arte antiga (no British Museum ou na National
Gallery, um dos maiores museus ingleses, com mais de 2.300 obras) e arte contemporânea (Tate Modern), sem pagar um tostão. O Museu
de História Natural tem fósseis de dinossauros, mas não dispensa a mais moderna
tecnologia e painéis interactivos.
E haverá guia mais tradicional do que um "beefeater" para nos
contar os segredos tenebrosos da Torre de Londres?
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Prometo outro post sobre os beefeaters e a Torre de Londres. Não são magníficos? |
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O Harrods pode não ser o lugar mais acessível do mundo para fazer compras, mas lá que é apetecível (e bonito)... |
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A London Bridge, um ícone da arquitectura londrina. |
A cidade está repleta de hipsters
e, no entanto, continuam a colocar uma bíblia sagrada em cada quarto de hotel.
É a tradição, explica a nossa recepcionista, com uma sonora gargalhada.
Tristemente, um dos símbolos britânicos mais emblemáticos, as cabines
telefónicas vermelhas - talvez a invenção mais conhecida do arquitecto Sir
Giles Gilbert Scott, que passou a ostentar a coroa de St. Edward depois que a
actual rainha subiu ao trono - estão muito sujas e maltratadas. Numa altura em
que toda a gente tem (pelo menos) um telemóvel no bolso, elas estão a tornar-se
obsoletas. Tanto que a British Telecom criou a campanha "adopte uma
cabine" (aqui)
para ajudar na sua manutenção.
A capital inglesa recebeu-nos com temperaturas atípicas, perto dos 30ºC. Quase nem vimos guarda-chuvas que, em boa
verdade, deviam fazer parte do traje de um gentleman
- e o meu imaginário transporta-me para o clássico espião John Steed, da série Avengers, ainda antes dos heróis da Marvel terem nascido!
Alguns londrinos não gostam deste calor, diz-nos o jovem moreno que vende
macaroons no Harrods (outro clássico)! Ele gosta, acrescenta com um sorriso.
Pergunto-lhe de onde é: talvez do Médio Oriente!? "I was born here, but my
parents came from Pakistan", explica com a expressão do já estou tão habituado a que me tomem por
estrangeiro. E como eu o entendo...