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Um mar de papoilas vermelhas representa o sangue dos soldados ingleses derramado na I Guerra Mundial (instalação artística de 2014). |
"Is there any History teacher here?" - pergunta o guarda, com a
sua voz de trovão. A capa azul e vermelha e o gorro Tudor emprestam-lhe um aspecto
impressionante.
A multidão humedece. "Great, I
can tell you whatever I want", remata com uma valente gargalhada. Tom
é um dos Yeomen Warders, os guardas cerimoniais da coroa britânica, mais
conhecidos por "beefeaters"** e prepara-se para nos guiar pelos
segredos da famosa Torre de Londres.
Com mais de um milhar de anos, a Torre é um dos palácios reais,
património mundial da Humanidade, e também onde se guardam as joias da coroa
desde o século XIV, quando o jovem Ricardo partiu da torre até à Abadia de
Westminster, para ser coroado. Claro que é proibido fotografar estes tesouros, estão
lá alguns dos maiores diamantes do mundo.
Ao longo da história, a Torre serviu como fortaleza, depósito de armas, palácio,
casa da moeda... mas é como lugar de tortura e execuções que é mais recordada.
"Sent to the Tower"é
sinónimo de prisão, sobretudo para gente importante: o filósofo Francis Bacon,
a rainha Elizabeth I, o rei D. João II de França e o duque de Orleães D. Carlos
I foram alguns dos ilustres convidados.
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Actores deambulam pela fortaleza, dando um espírito mais autêntico ao espaço. |
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© assayofficebirmingham.com |
Aqui foram decapitadas duas mulheres de Henrique XVIII (dizem que a Ana
Bolena ainda assombra a Torre Branca, passeando com a cabeça debaixo do braço)
e aqui desapareceram misteriosamente os príncipes Edward V e Richard, em 1483,
pobres herdeiros ao trono.
Apesar da riqueza histórica do lugar e do porte magnífico do guia, é
difícil manter uma criança interessada, sobretudo quando a visita guiada é
feita numa língua que ainda não se domina. Mas o Pedro adorou a Torre, graças
ao kit infantil, com um mapa para procurar as feras reais.
Durante centenas de anos, a Torre foi acolhendo todos os animais que
ofereciam aos reis ingleses: os
primeiros a chegar foram leões, um urso polar vindo da Noruega (que mantinham
preso com uma corda longa, para pescar no Tamisa) e um
elefante africano. Mas também por lá passaram linces, tigres, lobos,
águias, macacos, ursos pardos... os animais acabaram por ser transferidos para
o Jardim Zoológico em St. Regent's Park em 1832, após vários ataques aos
visitantes.
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O Pedro em busca dos animais do recinto. |
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Ali ao lado, fica o Tamisa e a emblemática London Bridge. |
Hoje restam apenas os corvos. Reza a lenda que a fortaleza, a monarquia e o próprio reino cairão em ruína, se um dia as aves pretas abandonarem a Torre. Superstição ou não, a verdade é que os corvos foram fechados durante o surto de gripe aviária (2006) e estão protegidos por decreto real.
O pequeno explorador ainda fala entusiasmado da Torre de Londres e
ostenta o seu crachá "I escaped from
the tower", não por causa da colecção de moedas, de espadas ou
parafernália militar, não por causa das coroas pejadas de pedras preciosas, mas
por causa desta caça ao tesouro zoolófica!
Outros programas infantis em Londres
London Eye: o bilhete é caro para uma experiência de
30 minutos, mas a verdade é que a roda gigante recebe mais turistas por ano do
que o Taj Mahal. O pequeno explorador adorou a roda, não tanto pela
paisagem, mas por causa dos painéis interactivos com informação sobre
vários pontos da capital (ficamos a saber que o estádio de Wembley tem 2.618
casas de banho, mais do que qualquer outro recinto do mundo). O filme 4D também
foi memorável, segundo o Pedro.
Museu de História Natural: os fósseis dos dinossauros chegariam
para fazer qualquer criança feliz, mas o museu tem ainda réplicas de mamíferos
em tamanho real (a baleia parece um avião), insectos, peixes, etc. Ao todo, são
cerca de 70 milhões de espécies ou itens, catalogados em cinco grandes grupos:
Botânica, Entomologia, Mineralogia, Paleontologia e Zoologia. O Pedrinho vibrou com a secção dedicada aos vulcões e o simulador de terramotos. Eu adorei o
edifício!
Não experimentamos, mas acredito que o Pedro ia achar piada à Shrek's
Adventure (a dois minutos do London Eye) e à loja M&M, na Leicester Square.
Quanto aos estúdios do Harry Potter, haverá tempo depois de ele assistir ao primeiro filme ou ler o primeiro livro da saga do famoso feiticeiro.
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**poderá
derivar o termo francês "buffetier", que se referia aos guardas que
testavam a comida real. O povo afirma, no entanto, que o apelido se deve à farta dieta
destes guardas, mesmo em tempo de guerra, quando os ingleses tinham direito a
uma única ração semanal de carne.
Entrada na Torre de
Londres: 22£ adulto/10£ criança
Entrada standard no London
Eye, comprada online: 19,35£ adulto/ 13,95£ criança (varia conforme a época
do ano, mas é sempre mais barato comprar pela internet).
Entrada no Museu de
História Natural: gratuita