O meu primeiro contacto
com a China foi muito atípico, é comum entrar-se no país através de Pequim. Por
isso, tinha grandes expectativas em relação a Cantão ou Guangzhou (广州; Guǎngzhōu), a capital de província. Não dizem que viagens longas e expectativas gigantes andam de mãos
dadas?
Por muito bonitos
que sejam os templos e as casinhas típicas chinesas, não se conhece o país sem
visitar uma grande cidade [Claro
que também visitei Hong Kong, mas esta big
cityé um caso particular, não só por causa do legado dos britânicos, mas
também por se tratar de uma zona administrativa especial, para a qual nem
preciso de visto].
Cantão é a terceira
maior da China continental, a
mega-metrópole do sul, com mais de 12 milhões de habitantes, um dos maiores
centros industriais, administrativos e financeiros do país, que acolhe uma das maiores
feiras do mundo (notícia sobre a Canton
Fairaqui).
Daqui irradiou ainda o cantonês,
a segunda língua mais
falada na China, tão importante que a capital do país é mais conhecida no
estrangeiro pelo seu nome cantonês (Pequim) do que pelo seu nome em mandarim
(Beijing).
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A entrada no museu de Guangdong é gratuita, mediante a apresentação de um documento de identificação com fotografia. |
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O Museu de Guangdong surpreendeu-me pela positiva. São 4 pisos repletos de bom gosto, com destaque para a história e cultura desta província do sul da China. |
A cozinha regional também
é uma das mais conhecidas: dim sums, leitão
assado, carnes agridoces ou dragão em jade branco (lagosta cozida ao vapor, com
abóbora, que infelizmente não provei)... os cantoneses, como de resto todos os
chineses, gostam muito de comer. Acontece que em Cantão se come, literalmente,
de tudo. Diz o ditado que aqui se "come tudo o que tem pernas, excepto
mesas, e tudo o que voa excepto aviões".
Cantão é uma cidade do século
XXI que cresce na vertical, com museus de primeiro mundo, arranha-céus e
edifícios espelhados, lojas de rua que vendem anúncios em neón como quem vende
latas de coca-cola.
O reverso da medalha? A poluição, que forma uma névoa
permanente. Este é um problema de não somenos importância, o país é o maior
emissor de dióxido de carbono do mundo, daí tantas pessoas usarem máscaras diariamente.
Fotografias bonitas só depois de uma boa
chuvada e com um pouco de photoshop. Ora vejam a magnífica Torre de Cantão que,
do alto dos seus 600 metros, foi a mais alta estrutura da China até ser
suplantada por uma em Shangai em 2013. Construído por altura dos 16º Jogos
Asiáticos, este cartão postal da cidade é muito difícil de fotografar. Não pela
sua altura, mas porque a névoa de poluição constante lhe retira muita beleza. O
ideal é fotografar à noite.
A cidade tem, no entanto, alguns pontos
verdes que merecem uma visita, nomeadamente o Parque Yuexiu com os seus lagos
artificiais, onde restam alguns vestígios da velha muralha e fica a famosa
estátua das cabras. Esta peça é muito interessante, pois encerra uma lenda genesíaca.
Diz-se que a região era, na Antiguidade,
muito pouco fértil. O povo sofria com a fome e tinha que trabalhar duramente
para colher o magro fruto da terra. Eis que cinco imortais os visitam, trazendo
consigo cinco cabras que, por sua vez,
carregavam sementes de arroz nas suas bocas. A bênção das divindades e a
nova sementeira de arroz trouxeram prosperidade à região que hoje é Cantão,
razão pela qual esta é também conhecida como a "cidade das cinco
cabras".
Esta história ficará eternamente guardada na
pasta Cantão da minha memória, já
para não falar do guia turístico que nos explicou tudo em mandarim, terminando
a sua longa arengada com uma canção melosa em inglês, como forma de pedir
desculpa pela sua fraca capacidade linguística.
"Think about me everyday in your life. We don't say goodbye. Now, we are
friends", rematou. Desde então, não tenho feito outra coisa senão
pensar no Mr. Green...