Contei-vos que no
meio da Maragateria fica a antiquíssima Astorga, o cruzamento de vários
caminhos de minérios, de fé e misticismo. Falta contar-vos que Astorga é também a cidade do chocolate, produção que atingiu o período áureo nos séculos XVIII e
XIX, graças ao cacau que chegava das colónias da América Latina.
Esta dulcíssima e
secular arte resultou na venda de chocolate e bombons de todos os tamanhos,
sabores e feitios, em todas as lojas de recordações da cidade. Existe até um
Museu do Chocolate em Astorga, instalado no palacete de um desses empresários (D.
Magín Rubio), um dos muitos edifícios modernistas que enfeitam a cidade, por
influência de Gaudí.
Imaginem eu, que nem
gosto nada de chocolate, fiz um esforço tremendo para escrever este post sobre
o alimento dos deuses. E por falar em
deuses, sublinhe-se que o Museu tem a bênção do senhor da Lua prateada e dos ventos gelados "Quetzcoatl".
Diz a lenda que o deus asteca ofereceu aos homens as sementes da árvore sagrada
(o cacaueiro) mas, por entregar o alimento divino aos mortais, foi condenado ao desterro.
É por isso que uma escultura em madeira de Quetzcoatl pende, imensa, da caixa de escadas, uma escadaria que desemboca maravilhosamente no primeiro andar, para uma porta trabalhada com ferro e vitrais. Mas adianto-me. Regressemos à entrada, que parece uma lojinha tradicional, para comprar o bilhete e entrarmos na Câmara das Maravilhas.
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O Palacete de D. Magín Rubio acolhe o Museu do Chocolate. |
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O cacau como moeda de troca. Em tempos, valeu mais do que o ouro. |
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© www.aytoastorga.es |
As
Câmaras das Maravilhas eram salões que a nobreza criava nas suas mansões,
com todo o tipo de objectos insólitos e raros, para impressionar as visitas, o que
originou, de resto, bizarríssimas colecções. Pois, a Câmara do Museu expõe
várias coleções de cromos, calendários e outros mimos usados para incentivar o
consumo do chocolate (ainda não tinham inventado os ovos de chocolate com
brinquedos no interior)...
Sabiam que a palavra bombom vem do francês e
significa "duas vez bom"? Franceses espertos! E que o chocolate se derrete por volta dos 34ºC, daí desfazer-se na boca? Hmmmm
Sucedem-se depois as salas sobre a origem do cacau,
as lendas a ele associadas, o panorama histórico da produção de chocolate bem
como a maquinaria usada para esse fim, primeiro de uma forma artesanal e depois
industrial. O primeiro andar é, grosso modo, dedicado às famílias chocolateiras de Astorga e materiais publicitários.
Mas o melhor fica para o fim: vamos provar
chocolate. Chocolate preto com 71% de
cacau da Venezuela, chocolate preto com 53% de cacau do Equador ou chocolate de
leite e amêndoas com 41% cacau do Gana? Não me consigo decidir sobre qual é o meu
favorito, portanto vou provar outra vez...
Uma despedida docinha de Espanha, depois de um fim-de-semana feliz com o pequeno
explorador.
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A arquitectura do início do séc. XX sofreu a influência do modernismo de Gaudi, como prova a Casa Granell, de outro empresário do chocolate de Astorga. |
Entrada no Museu do
Chocolate: 2,5€ adulto / gratuito para crianças com menos de 10 anos
Mais fotos de Astorga na página do Facebook d'O Berço (aqui).