Festejamos o fim-de-semana da mamã em Espanha.
Estamos a criar uma espécie de tradição familiar, digo eu! (recordem o Dia da Mãe 2014 aqui)
Estas águas abundantes fecundam extensos pomares de macieiras,
cujo fruto é transformado na famosa cidra sanabrense, pouco alcoólica e 100%
natural, que encontramos em todos os bares, taperias e lojinhas de produtos
regionais. Fresca deve ser óptima, mas não hoje que os céus nos presentearam com uma chuva miudinha.
No cume deste monte, concentra-se um conjunto monumental que
merece uma visita. Começamos pelo castelo de Puebla de Sanabria, onde nos
disfarçamos de cavaleiros: o pequeno explorador ensaia uma pose combativa para
a foto, mas a couraça é muito pesada!
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O interior do recinto muralhado foi reconvertido e hoje acolhe uma
Casa de Cultura, a Biblioteca, um ecomuseu e, no centro deste gigante de
granito, a torre de menagem, popularmente conhecida como "El Macho", de onde se tem uma vista
magnífica para o rio e para o pináculo da igreja paroquial, do século XII, em
honra da Virgem do Azougue.
É para lá que nos dirigimos, não sem antes lermos a mensagem
destinada a todos os peregrinos que por aqui passam, rumo a Santiago (Puebla de
Sanabria faz parte da rota francesa do Caminho):
"Todas las olas de la Historia han dejado
aqui su paso. Los celtas el nombre. Los suevos la primera organización. El
monacato y los mozarábes su huella y los condes su empaque. Caminante, que tu
también, en cada ola de tu historia dejes, con tus buenas obras, memoria de tu
paso. el amor es el camino."
O templo está fechado
mas o que realmente aqui me trouxe foi simplesmente a porta, com o seu Adão e
Eva e uma serpente que lhes sussurra ao ouvido. Uma cena típica do Génesis,
dirão. Pois. Só que os restantes capiteis também estão repletos de serpentes
que, para alguns, simbolizam a Grande Obra da alquimia (teoria aqui).
Aliás, o azougue é o nome comum do símbolo químico do mercúrio, também muito
popular entre os alquimistas.
Será que a Senhora do Azougue esconde um passado pagão? Não chego a nenhuma conclusão e o Pedrinho acaba por interromper os meus devaneios metafísicos. A mãe tem assim momentos estranhos: como congelar em frente a uma porta fechada!? E lá seguimos alegremente para o Salón de los Obreros.
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Porta da Igreja da Senhora del Azogue, com as suas enigmáticas serpentes. Eu com o capote de peregrino (em baixo). |
Gigantones seculares
Os cabeçudos e os gigantones povoam o imaginário de todos os
minhotos, graças à sua presença assídua em várias romarias. Para ser sincera,
nunca parei para pensar na diferença entre um cabeçudo e um gigantone... Mas
afinal é muito simples, todos têm cabeças grandes mas alguns, para além
disso, são gigantes - explica o técnico do Museo
dos Gigantes y Cabezudos de Sanabria.
A povoação tem uma longa tradição destas personagens. Tudo começou em 1848, com dois gigantones
exóticos: uma negra caribenha e um chinês. Depois, outros se juntaram
à trupe, para abrilhantarem as Festas de las Victorias, que acontecem a 7 e 8
de Setembro.
O pequeno museu conta hoje com 10 gigantones e 33 cabeçudos que
representam seres mitológicos - diabos, bruxas, duendes e magos - personagens literárias
como D. Quixote e Sancho Pança, Dumbo ou o Pinóquio, e mesmo figuras
históricas, como Napoleão Bonaparte. Os cabeçudos e gigantones de Sanabria não
só são antigos como também viajados, participando em vários encontros da Península Ibérica.
Puebla de Sanabria é tão pequena como surpreendente. E os seus
tesouros não se esgotam neste post. Em breve falarei sobre um dos mais belos
locais da região: o Lago de Sanabria.
Entrada no Castelo: 3€
adulto /2€ criança. (o mesmo bilhete dá acesso ao Museo de Gigantes y
Cabezudos)